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Perguntas que vão te fazer durante um pitching


Veja aqui como se preparar para as perguntas que mais assombram um roteirista quando tenta vender seu projeto


Confuso
Ficar boladão no pitching é normal. Se Shonda Rhymes micou, você achou que ia se safar?

Você fez o seu dever de casa, ensaiou o pitching de elevador e o pitching longo, sabe a trama do seu filme ou da sua série e tá like a boss, achando que domina o palco. E aí vem o cara da grana ou o dono daquela produtora dos sonhos e te lasca uma dessas perguntas aí embaixo e você gagueja. Conheça neste post as perguntas mais comuns durante um pitching e descubra o que na verdade o player quer ouvir de você. Dica: não era o que você estava pensando.

1. Quanto vai custar?

Se você for falar com produtora, é provável que esta pergunta não role. Agora, se você for canal, é 100% garantido que seu player vá te surpreender com esta pergunta.


"Não faço ideia, sou só roteirista" não é uma resposta aceitável. Um escritor sabe - ou deveria saber - quanto custa, em grandes números, produzir o roteiro que ele está oferecendo. Isso indica que você está preparado para encarar os desafios mais comuns na carreira de roteirista: mudar seu roteiro para reduzir o orçamento ou escrever um roteiro sob encomenda que caiba num orçamento definido. Esta pergunta também separa o joio do trigo. Se você não tem resposta para ela, provavelmente não está pronto pra encarar os muitos desafios da vida de roteirista profissional. Conferir o custo de filmes que são parecidos com o que você está oferecendo é uma boa, esta informação geralmente é fácil de ser encontrada na internet.

2. Me fala um pouco de você...

Esta é a pergunta que deveria ser fácil de responder - afinal, é sobre você mesmo -, mas não é. Dificilmente a gente se prepara para falar sobre nós mesmos. Quem faz esta pergunta não quer saber da sua vida inteira, ou que você ama cinema. Você é um roteirista, é óbvio que você adora filmes e TV e é apaixonado pela escrita.


O macete é usar seus dons de contador de histórias e criar uma história para você. Torne-se um personagem interessante. Fale de um recorte específico da sua vida e o que você passou até chegar nesta reunião. Não fale dos filmes que você ama, isso é clichê. Fale rapidamente da sua formação, do seu histórico profissional e das ações que o levaram àquele momento. Nunca se esqueça que estar cara a cara com um decisor que quer conhecer o seu trabalho já é muita coisa. Respeite esta pessoa, mostre-se seguro de si e um profissional que sabe o que quer e ela vai te respeitar também. Conte uma anedota ou outra que tenha a ver com seu roteiro. Seja rápido (dois minutos no máximo), assertivo e sedutor, mas não seja pernóstico.

3. Fala um pouco do seu filme/série.

Aí você se pergunta: "porra, cara, você não leu?" Às vezes sim, muitas vezes não. O lance aqui é que o player não quer saber somente da sua história. Ele quer saber se você tem domínio da trama. Esta pergunta é muito mais comum em séries, quando o player quer sentir se você sabe para onde conduzir a trama em múltiplas temporadas. Mas em longas também rola, para saber se você conhece os pontos chave e as principais qualidades do seu filme.


Você tem que dominar completamente:

- sua trama;

- suas personagens;

- o gênero da sua trama e porque ela se encaixa, por exemplo, num filme de ação e não numa comédia, já que premissas são abertas e a gente pode ir para vários lados;

- a ambiência;

- os temas, tanto o principal quanto os secundários (aliás, especialmente os secundários).


Domine seu pitching de elevador e comece com ele. Depois, passe para uma sinopse curta. E complemente contando alguma história pessoal que mostre a conexão daquele roteiro com você. Seja criativo sem ser alternativo demais. Fale naturalmente, sem afobação. Foque no tema, na sua inspiração e na sua visão criativa, por meio de uma história envolvente e curta.


Olha esse exemplo fictício:


"Eu sempre tive paixão por fotografia. Desde menino eu paquerava uma Yashica velha do meu pai, mas ele nunca deixava eu mexer. Um dia ele deu mole, eu devia ter uns 15 anos, eu fui lá e roubei a câmera pra tirar foto na rua. Um pivete acabou roubando a câmera de mim. Tomei um esporro animal. Dias depois, tô andando na rua e vejo o moleque que me roubou tirando foto com a máquina do meu pai. Corri atrás dele, mas em vez de enquadrar o cara eu fiquei curioso e puxei papo. Por que ele não tinha vendido a máquina? A gente acabou ficando amigo, ele me devolveu a máquina. Eu perguntei: 'cara, quer tirar umas fotos comigo?'. Ele topou e a gente acabou aprendendo junto. Ele morava numa favela lá perto de casa e meu pai acabou desencanando e deixou a gente treinar na Yashica dele até ele juntar uma grana e comprar uma máquina pra mim e outra pro meu amigo. Nós dois viramos fotógrafos, ele num jornal e eu na publicidade, que acabou me levando para o cinema e depois para o roteiro. Foi daí que eu tirei 'Cidade de Deus'. Toda vez que eu olhava para o Celso - o meu amigo que tinha roubado a máquina do meu pai - e de onde ele vem, eu me perguntava o que aquele cara teve que vencer na vida pra ser um fotógrafo profissional e o que ele teria fotografado se tivesse uma câmera nas mãos desde menino."


Essa história é uma mentira, mas dá um panorama de como a gente pode dar uma graça na exposição da sua trama. Ache a história dentro da sua história.

4. Por que você acha que é a melhor pessoa pra contar essa história?

Essa é foda. "Porque eu escrevi, porra!", você quer gritar. Mas não é isso. O que o player quer saber é se você sabe qual é sua maior fraqueza e sua maior qualidade. Ou seja, se você se enxerga tão bem quanto ele te enxerga.


Esta é a hora de você mostrar seu domínio sobre o tema do filme ou da série, a profundidade da sua pesquisa. Use a anedota que você contou para responder à pergunta número três aí em cima. Se seu projeto é uma história real, baseada na sua vida, é fácil. Se é uma história fictícia, o que ela tem a ver com você? Se é um filme de gênero, você pode tentar uma frase do tipo "eu vi todos os filmes de zumbi já produzidos, quando eu era criança eu fazia planos para uma invasão zumbi, que barricadas eu faria na minha janela". Mostre que você é um conhecedor do assunto. Mostre paixão. Players adoram roteiristas apaixonados. Se você não é apaixonado pelo seu projeto, você nem deveria estar apresentando pra ninguém.


Entenda, sobretudo, que ser um roteirista é uma responsa absurda. Do seu trabalho dependem 60, 70 empregos durante meses. Se você não confia em si mesmo e não tem o grau de compromisso e abertura pra tocar essa parada, quem vai confiar em você?

5. Que tipo de roteiro você gosta de escrever?

Esta pergunta é capciosa. O player não quer saber dos outros roteiros na sua estante. Ele quer saber se você tem ideia pra onde vai como roteirista, se tem foco na sua qualificação como profissional e se sabe para onde quer ir.


Não seja metido e diga que escreve qualquer coisa. Isso é arrogância pura e muito provavelmente é mentira. Ninguém é bom em todos os gêneros. Falar isso significa mostrar que você não sabe diferenciar o que é bom dentro do seu próprio trabalho. E se você é assim tão sem noção, como esperar de você um bom roteiro?


Players sempre sondam roteiristas para possíveis trabalhos sob encomenda. Eles querem saber pra que tipo de projeto podem eventualmente te chamar, querem conhecer suas forças e fraquezas. Seja franco em relação às fraquezas, especialmente. Eu, por exemplo, sempre menciono o quanto é desafiador pra mim escrever comédias e o quanto meu lance é ação/aventura e musicais. Ter esta clareza sobre suas qualidades é essencial para desenvolve-las.


Dica: reforce o quanto você ama escrever para TV, o quanto você sonha escrever para streaming e o quanto você curte projetos de baixo orçamento, que exigem mais criatividade pra contar uma história. Estes são os vetores de crescimento da indústria nos próximos anos.

6. Que mais você tem aí?

A pergunta real é: "você é escritor de um projeto só?"


Raciocina comigo: criar um relacionamento é difícil. Cumprir deadline, mais ainda. Parir 36 episódios de uma série, no prazo, com sete ou oito tratamentos e coordenar as alterações de produtor, canal e doctor, já viu.


Se você só tem um roteiro na mão, é muito provável que você seja verde para tanta responsa. Por isso sempre digo, se você só tem um roteiro, é cedo para tentar vende-lo. OK, você pode ser um sortudo e conseguir, mas e o resto da sua carreira? Só um roteiro na mão, mesmo que vendido, não faz de você um roteirista. É uma promessa, mas não um profissional ainda. O ideal é ter pelo menos uns cinco bons roteiros na mão antes de tentar uma venda. Assim você já sabe pelo menos onde estão seus maiores erros. Quando fui pra rua vender meu primeiro roteiro, que por coincidência foi uma série, eu já havia escrito três curtas, três longas, uma peça e três bíblias de série completas com piloto, além de centenas de roteiros para eventos e material de publicidade.


Aqui, mais uma vez, o player quer sondar sua capacidade de entrega e ver em que outro projeto pode te aproveitar. E quer sentir se firmar um contrato contigo é uma boa, se você vai ter sempre material novo para apresentar.


Ter um portfólio sólido te posiciona como um roteirista pronto para escrever em cima de um argumento de outro ou até mesmo consertar um roteiro torto com uma boa premissa que tenha caído na mão do player. Seja um cara que tem conteúdo.


Treine essas perguntas aí e mande ver no seu pitching.

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